Indicadores de resultados e impactos
As atividades do projeto contribuíram para os resultados relacionados à componente “produção sustentável” (1) do Quadro Lógico do Fundo Amazônia.
Efeito direto 1.1: atividades de uso sustentável da floresta e da biodiversidade fortalecidas na Bacia do Rio Xingu.
Efeito direto 1.2: cadeias dos produtos agroflorestais com valor agregado ampliado na Bacia do Rio Xingu.
Os principais indicadores pactuados para o monitoramento desse objetivo foram:
- Faturamento anual com atividade econômica de uso sustentável – produtos in natura (R$) (indicador de efetividade)
Meta: não definida | Resultado alcançado: R$ 483 mil/ano
- Faturamento anual com atividade econômica de uso sustentável – produtos beneficiados (R$ mil) (indicador de efetividade)
Meta: não definida | Resultado alcançado: R$ 189 mil/ano
Na análise da evolução desses indicadores ao longo da implementação do projeto, constata-se que ocorreu um aumento de 53% no faturamento do conjunto dos produtos comercializados, sendo que o faturamento dos produtos beneficiados mais que quadruplicou quando se compara a linha de base (2013 – anterior às ações do projeto) com o último ano medido (2017). Com o apoio do projeto foi verificado um incremento de receita de R$ 682 mil, sendo que o cálculo desse incremento é feito comparando-se anualmente a receita em um determinado ano com a receita de sua linha de base. Esse incremento anual é somado ao longo dos anos da execução do projeto e, consolidado, representa o incremento de receita resultante do projeto.
- Nº de agricultores que acessaram os mercados institucionais – Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) ou a Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio) (indicador de efetividade)
Meta: 30 | Resultado alcançado: 2
Esse indicador não atingiu sua meta, com desempenho bastante inferior ao almejado. Não obstante, duas das aglutinadas que participaram do projeto (Aasflor e Ansa) firmaram parceria com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Outras quatro associações extrativistas que participaram do projeto estavam, ao fim do projeto, em vias de acessar o Pnae e fornecer farinha de babaçu para prefeituras da região.
- Número de parcerias comerciais estabelecidas (indicador de efetividade)
Meta: 2 | Resultado alcançado: 6
Esse indicador apresenta o resultado de uma iniciativa inovadora que compreendeu a implementação da certificação de origem das cadeias dos produtos da sociobiodiversidade apoiadas pelo projeto com a prospecção e o estabelecimento de novas parcerias comerciais que valorizem os serviços socioambientais prestados pelas populações tradicionais. As parcerias comerciais estabelecidas abrangeram empresas de perfumaria, produtos de borracha, panificação, produtos naturais, comercialização de artesanato e uma das maiores cadeias de supermercados do país (comércio varejista).
Efeito direto 1.3: capacidades gerencial e técnica ampliadas na Bacia do Xingu para a implantação de sistemas agroflorestais (SAF), produção agroextrativista e beneficiamento de produtos agroflorestais.
Os principais indicadores pactuados para o monitoramento desse efeito foram:
- N° de indivíduos capacitados em manejo de sementes nativas, atividades de manejo florestal e produção agroextrativista efetivamente utilizando os conhecimentos adquiridos (indicador de efetividade)
Meta: 980 | Resultado alcançado: 1.327
- Número de famílias beneficiadas com assistência técnica (indicador de eficácia)
Meta: 480 | Resultado alcançado: 1.642
Esses dois indicadores demonstram bons resultados em um tema central para o sucesso de iniciativas de produção sustentável na Amazônia, que são a capacitação e a prestação de assistência técnica. Eles buscam verificar o enfrentamento de dois desafios nesse tema, que são a efetiva utilização das capacidades adquiridas, e a prestação continuada de assistência técnica para as famílias durante a execução do projeto. São aspectos que, estando contemplados, promovem a sustentabilidade econômica e ambiental dessas iniciativas.
Efeito direto 1.4: áreas desmatadas e degradadas recuperadas e utilizadas para fins econômicos e de conservação na Bacia do Xingu.
Os principais indicadores pactuados para o monitoramento desse efeito foram:
- Área reflorestada com sementes e mudas comercializadas pela Rede de Sementes do Xingu (indicador de efetividade)
Meta: 60 ha | Resultado alcançado: 2.046 ha
- Quantidade de mudas produzidas (indicador de eficácia)
Meta: 12.000 | Resultado alcançado: 19.200
As atividades de reflorestamento e de produção de mudas podem ter finalidades produtivas e de recuperação ambiental e, além disso, são importantes para promoção das cadeias de produção de sementes e mudas de espécies nativas. A meta inicial, 60 ha de área reflorestada, contemplava apenas o reflorestamento efetuado diretamente no âmbito do projeto, com o plantio de pequis para recuperação de um pasto abandonado pelos índios Kisêdjê, que foi realizada a contento. A diferença em relação ao resultado final de 2.046 ha se refere à área estimada reflorestada com as sementes e mudas vendidas pela Rede de Sementes do Xingu no âmbito do projeto. Mais importante do que o resultado final em hectares reflorestados é o fortalecimento da cadeia de produção e venda de sementes, principal insumo para a atividade de reflorestamento.
O bom resultado na produção de mudas também é reflexo do investimento em ampliação e melhorias de viveiros, o que cria uma base de produção importante para expansão das atividades de reflorestamento na região, seja por projetos como esse, seja também por prefeituras e proprietários rurais.
Aspectos institucionais e administrativos
O Instituto Socioambiental executou parte das atividades do projeto e também coordenou as atividades de campo do projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu mediante um conjunto de 12 instituições, conforme tabela a seguir.
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Organizações parceiras
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Atividades principais
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Sub-região
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1
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Associação de Moradores da Resex do Rio Iriri (Amoreri)
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Sementes florestais, mudas, óleos, castanha-do-brasil e borracha
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Terra do Meio, Altamira (PA)
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2
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Associação de Moradores da Resex do Riozinho do Anfrísio (Amora)
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Sementes florestais, mudas, óleos, castanha e borracha
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Terra do Meio, Altamira (PA)
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3
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Associação de Moradores da Resex do Xingu (Amomex)
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Sementes florestais, mudas, óleos, castanha-do-brasil e borracha
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Terra do Meio, Altamira (PA)
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4
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Associação dos Moradores Extrativistas do Rio Iriri – Maribel (Aerim)
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Óleos, castanha-do-brasil e borracha
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Terra do Meio, Altamira (PA)
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5
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Associação Agroflorestal Sementes da Floresta (Aasflor)
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Óleos, castanha-do-brasil e borracha
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Terra do Meio, Altamira (PA)
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6
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Associação Comunitária Agroecológica Estrela da Paz (Acaep)
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Sementes florestais, mudas e polpas de frutas
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Cabeceiras do Xingu/BR-158 (MT)
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7
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Associação Terra Viva de Agricultura Alternativa e Educação Ambiental (ATV)
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Sementes florestais e mudas
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Cabeceiras do Xingu/BR-158 (MT)
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8
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Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção (Ansa)
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Sementes florestais, mudas e polpas de frutas
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Cabeceiras do Xingu/BR-158 (MT)
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9
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Operação Amazônia Nativa (Opan)
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Sementes florestais e mudas
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Cabeceiras do Xingu/BR-158 (MT)
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10
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Associação Indígena Kisêdjê (AIK)
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Sementes florestais, mudas, óleos, castanha e borracha
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Parque Indígena do Xingu - PIX (MT)
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11
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Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng (Aimci)
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Sementes florestais e mudas
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Parque Indígena do Xingu - PIX (MT)
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12
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Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
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Certificação, parcerias comerciais e monitoramento
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Todas
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Tendo em vista a ampla abrangência territorial e o grande número de instituições participantes, o projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu envolveu uma demanda elevada para sua gestão administrativa e para a articulação institucional. Como o projeto desenvolveu muitas de suas atividades em UCs e TIs, houve a necessidade recorrente de consultar os órgãos gestores dessas áreas protegidas (Funai, ICMBio, Ibama e outros), além de parcerias com as prefeituras de alguns municípios.
Como a instituição executora já havia trabalhado em parceria com as instituições aglutinadas em projetos anteriores, a gestão desse projeto foi beneficiada, pois já havia uma experiência prévia que favorece o estabelecimento de uma relação de confiança. Um dos desafios do projeto foi buscar a troca de experiências entre comunidades com diferentes perfis, como indígenas, extrativistas e pequenos agricultores já que, geralmente, os projetos socioambientais atuam somente com um grupo social.
Outro aspecto institucional de destaque no projeto diz respeito às ações desenvolvidas por uma das instituições aglutinadas, o Imaflora. Sendo uma instituição especializada em certificação florestal com experiência em boas práticas de manejo florestal e populações tradicionais, sua participação no projeto, diferentemente das demais aglutinadas que atuaram mais voltadas às atividades de campo, teve um caráter transversal no apoio ao fortalecimento das cadeias produtivas, por meio da criação de mecanismos que valorizem a produção local respeitando suas particularidades. O escopo de atuação do piloto de certificação de origem da região do Xingu abarcou todas as sub-regiões do projeto com foco maior no PIX e na Terra do Meio, onde havia cadeias produtivas sustentáveis mais desenvolvidas.
Riscos e lições aprendidas
As parcerias entre as instituições que integraram o projeto já estavam em curso antes de sua execução, o que foi positivo para a gestão compartilhada de um projeto complexo com tantos atores, além de possibilitar a ampliação de uma estratégia que já estava em andamento. Avançar na consolidação de cadeias de produtos da bioeconomia em territórios isolados leva um tempo que geralmente ultrapassa a duração de um projeto, necessita de um processo continuado de articulação, o estabelecimento de parcerias e a busca constante por melhorias nas condições dos territórios.
Com as comunidades indígenas participantes do projeto, um dos desafios foi a coordenação de processos que eram executados dispersamente em muitas localidades de etnias diferentes. Para enfrentar essa questão, foi estabelecida uma dinâmica com representantes de cada comunidade que possibilitou maior comunicação entre as partes.
Já na sub-região da Terra do Meio, um aprendizado importante se deu a partir do estabelecimento de uma cesta de produtos com processos de comercialização claros por meio da criação das cantinas comunitárias, com o capital de giro para dar liquidez e as parcerias comerciais que trouxeram segurança na destinação da produção extrativista. Isso permitiu maior liberdade de escolha para os comunitários das atividades a serem priorizadas, com opções de geração de renda ao longo de todo o ano e alternativas em caso de baixa produtividade de um determinado produto.
Um importante gargalo que foi identificado, principalmente para a cadeia da castanha-do-brasil, é a necessidade de capital de giro para a compra antecipada da safra. No momento do projeto, o volume comercializado ficou condicionado ao capital de giro disponibilizado pelas instituições que apoiam as comunidades. Esse é um ponto que precisa ser enfrentado e solucionado para garantir a consolidação dessas cadeias produtivas.
Outra lição aprendida decorre do fato de a rede de sementes do Xingu trabalhar em vários municípios da região, possibilitando que espécies que estejam com dificuldades de produção em uma localidade sejam supridas por outras localidades, garantindo estabilidade na entrega das sementes, já que um dos métodos de plantio para recuperação de áreas degradadas se utiliza da técnica denominada “muvuca de sementes”, que envolve o plantio direto conjunto de uma grande variedade de sementes a partir das técnicas e conceitos da agroecologia.
Sustentabilidade dos resultados
As cadeias de produtos da sociobiodiversidade têm desvantagens competitivas quando comparadas aos plantios comerciais contemporâneos e a produtos sintéticos. Tal fato leva à necessidade de ações inovadoras para a agregação de valor aos produtos da floresta, sendo que o projeto apoiou iniciativas como o selo Origens Brasil, que permite dar valor aos serviços socioambientais associados aos produtos, bem como o desenvolvimento e a implantação de tecnologias como as miniusinas de óleos, que adotam soluções tecnológicas compatíveis com a realidade e os saberes das comunidades beneficiadas, contribuindo dessa forma para viabilizar sua sustentabilidade econômica.
Cabe destacar que a estruturação de relações de longo prazo nas cadeias de valor dos produtos da sociobiodiversidade geram aprendizados em toda a cadeia: (i) na gestão e organização social das comunidades no âmbito local e no âmbito territorial por meio da gestão integrada do território; e (ii) no maior entendimento das empresas sobre seus insumos e fornecedores, passando estas a entender melhor a dinâmica da floresta, do extrativismo e das populações tradicionais e indígenas. Promove-se-, assim, um ganho de gestão e responsabilidade em toda a cadeia que possibilita que iniciativas inovadoras permaneçam competitivas ante os diversos desafios a serem superados.