ASPECTOS INSTITUCIONAIS E ADMINISTRATIVOS
Além das parcerias previamente estabelecidas com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amazonas, o Banco Bradesco e a Coca-Cola Brasil para a implementação do PBF, a FAS estabeleceu, entre outras, parcerias com as seguintes instituições: Instituto Consulado da Mulher, Rainforest Alliance, Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AM), Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), Secretaria de Estado do Trabalho (Setrab/AM), Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Fórum de Turismo de Base Comunitária do Baixo Rio Negro, Fórum Amazonense de Mudanças Climáticas, Prefeitura de Iranduba, Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM).
No tocante à administração geral e dos programas, destaca-se o aperfeiçoamento dos sistemas de controles internos, com a contratação de analista de sistema em período integral de trabalho e o treinamento de membros da equipe para o uso de um novo software de geração de indicadores e informações sobre o projeto e o PBF.
A FAS tem uma equipe de 80 colaboradores, dos quais 48% são mulheres. Desse conjunto, 25 indivíduos ocupam cargos de coordenação, sendo 52% do gênero feminino.
INDICADORES DE RESULTADOS E IMPACTOS
As atividades do projeto contribuíram para os resultados relacionados às componentes Produção Sustentável (1) e Ordenamento Territorial (3) do quadro lógico do Fundo Amazônia.
Componente Produção Sustentável (1)
Objetivo específico (1.1) Atividades econômicas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade identificadas e desenvolvidas nas unidades de conservação estaduais do Amazonas.
Objetivo específico (1.2) Cadeias dos produtos agroflorestais e da biodiversidade com valor agregado ampliado nas unidades de conservação estaduais do Amazonas.
Os principais indicadores pactuados para o monitoramento desses objetivos foram:
- Número de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Floresta (indicador de produto)
O projeto teve como meta atingir o número de dez mil famílias beneficiadas pelo PBF, bem como pretendia ampliar a abrangência do PBF de 14 para vinte UCs. A meta de ampliar o número de famílias beneficiadas foi praticamente atingida (ver tabela abaixo), todavia, o PBF passou a beneficiar 16 UCs, e não vinte UCs como originalmente previsto. Essa ampliação da abrangência territorial do PBF menor do que a prevista decorreu da dificuldade encontrada pela FAS em ampliar a captação de recursos financeiros na escala necessária para alcançar essa expansão; todavia, o projeto foi exitoso em cumprir 94% da meta de dez mil famílias atendidas pelo PBF.
Nº de famílias Beneficiadas
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Meta
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2010
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2015
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Realizado/Meta
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Variação 2015/2010
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10.000
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7.692
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9.418
|
94%
|
2%
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Fonte: Fundação Amazonas Sustentável
Como se pode observar na tabela acima, ao final da execução do projeto estavam sendo beneficiadas pelas ações do PBF 9,4 mil famílias ou cerca de 40 mil pessoas, representando uma ampliação de 22% de famílias em relação à sua linha de base. É um feito significativo, haja vista que essas famílias se encontram dispersas territorialmente em uma área superior a 10 milhões de hectares, o que representa uma área maior do que a de um país soberano de médio porte como, por exemplo, Portugal.
- Receita obtida com atividades econômicas de base florestal e de uso sustentável - Medição da variação de receita das atividades econômicas florestais de uso sustentável (indicador de impacto)
Na componente Bolsa Floresta Renda, o projeto apoiou prioritariamente seis cadeias produtivas, além das atividades de turismo ecológico, artesanato e comércio comunitário. A tabela a seguir apresenta a evolução da receita anual dessas atividades econômicas.
Receita obtida com atividades econômicas sustentáveis em R$
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2010
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2011
|
2012
|
2013
|
2014
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Variação 2014 - Início da série histórica (%)
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Açaí
|
|
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112.056,00
|
160.000,00
|
233.987,00
|
109
|
Cacau
|
|
|
|
141.787,80
|
58.140,00
|
-59
|
Castanha
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151.550,83
|
126.852,00
|
117.707,00
|
81.950,00
|
162.560,00
|
7
|
Madeira
|
|
|
75.479,00
|
52.493,00
|
66.553,01
|
-12
|
Oleoginosas
|
|
|
990.000,00
|
672.000,00
|
480.000,00
|
-52
|
Pirarucu
|
1.848.202,72
|
2.662.794,80
|
2.780.302,15
|
4.223.567,85
|
5.011.581,03
|
171
|
Turismo
|
|
|
42.217,00
|
17.180,00
|
126.841,00
|
200
|
Artesanato
|
9.909,00
|
98.950,83
|
333.050,29
|
418.983,11
|
72.346,04
|
630
|
Cantinas
|
|
1.017.310,00
|
937.256,00
|
1.492.001,00
|
1.361.955,00
|
34
|
Total
|
2.009.662,55
|
3.905.907,63
|
5.388.067,44
|
7.259.962,76
|
7.573.963,08
|
277
|
A partir da análise da tabela anterior, constata-se que a receita com atividades produtivas sustentáveis desenvolvidas pelas comunidades nas 16 UCs apoiadas pelo projeto cresceu 277% se comparado com 2010, ano em que o projeto iniciou suas atividades, ou seja, mais do que triplicou nesse período. Esse é um indicador de impacto que sinaliza o êxito do projeto em gerar receita para as populações que residem nas UCs abrangidas pelo PBF.Fonte: Fundação Amazonas Sustentável
A fim de qualificar os dados da tabela acima são apresentadas a seguir algumas considerações:
- Açaí - o aumento da receita do açaí se deveu, principalmente, ao aumento do seu preço médio, além de integrar a lista de produtos da sociobiodiversidade apoiados pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA-Conab), o que contribuiu para o aumento do número de produtores envolvidos nessa atividade;
- Artesanato - destaque-se que a receita em 2013 foi quase três vezes maior do que em 2014, em função do valor individual mais alto das peças produzidas naquele ano, principalmente bolsas e sapatos, que atenderam encomendas específicas de uma coleção que foi comercializada nacionalmente, por meio de parceria com o Instituto Coca-Cola e a Rede Asta;
- Cacau - o apoio à cadeia do cacau se intensificou em 2013, porém a significativa queda na produção em 2014, e consequentemente na receita, decorreu de eventos climáticos extremos ocorridos na região; e
- Oleaginosas - a receita diminuiu no período acompanhado em função de queda na produção devido à dedicação dos produtores a outras atividades extrativistas.
- Renda média mensal por família da população beneficiada pelo PBF (indicador de impacto)
A FAS estima que ocorreu um crescimento da ordem de 97% na renda média mensal das famílias beneficiadas com o PBF (ver tabela a seguir). Este expressivo aumento da renda não pode ser exclusivamente atribuído ao projeto, pois fatores externos como outros projetos sociais e condições macroeconômicos favoráveis no período (aumento no preço de algumas commodities, por exemplo) também contribuíram para esse resultado.
Renda média mensal das famílias em R$
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Variação 2015/2010
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2010
|
2010*
|
2015
|
407,00
|
548,00
|
1.078,00
|
97%
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* Valores atualizados para reais de 2015 pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014.
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Fonte: Fundação Amazonas Sustentável
- Desmatamento anual das Unidades de Conservação do estado do Amazonas contempladas pelo Programa Bolsa Floresta (indicador de impacto)
A média do desmatamento anual nas UCs abrangidas pelo projeto teve uma redução de 69% no período de 2010 a 2014, desempenho este superior às demais UCs estaduais de uso sustentável que não se beneficiaram do PBF, cuja taxa de desmatamento foi reduzida em 56% nesse mesmo período. Isso sinaliza que a redução do desmatamento nas UCs beneficiadas com as ações do projeto (todas UCs de uso sustentável) foi mais acentuado que nas demais UCs estaduais de uso sustentável.
Na tabela a seguir observa-se que a área média desmatada nas UCs apoiadas pelo projeto quando comparada com a área total dessas UCs é de 0,005% e a área desmatada nas demais UCs estaduais (também de uso sustentável) no estado do Amazonas não apoiadas pelo projeto é de 0,014, o que permite a conclusão de que proporcionalmente a área desmatada em UCs beneficiadas com as ações do projeto foi cerca de três vezes menor do que nas demais UCs estaduais de uso sustentável. Não obstante, o conjunto desses dados não pode ser considerado isoladamente, não devendo ser atribuído exclusivamente ou predominantemente ao projeto esses resultados favoráveis, haja vista a dimensão territorial das UCs abrangidas pelo PBF bem como o impacto das ações de repressão ao desmatamento promovidas pelo governo no bioma Amazônia.
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Área desmatada em km2
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Área UCs (km2)
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2010 Linha de base
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2011
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2012
|
2013
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2014
|
Média 2011 - 2014 (km2)
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Comparação Média 2011 - 2014 vs Linha de base 2010
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Relação Média 2011 - 2014 / Área UCs
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Desmatamento em UCs estaduais no estado do Amazonas com o apoio do projeto (de uso sustentável)
|
104.333,80
|
15,84
|
6,19
|
2,72
|
4,91
|
5,74
|
4,89
|
-69%
|
0,005%
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Desmatamento em UCs estaduais de uso sustentável no estado do Amazonas semo apoio do projeto (18 UCs) (A)
|
51.141,30
|
16,07
|
10,48
|
4,93
|
5,03
|
7,70
|
7,04
|
-56%
|
0,014%
|
Desmatamento em UCs estaduais de proteção integral no estado do Amazonassem o apoio do projeto (9 UCs) (B)
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36.982,60
|
4,13
|
2,08
|
1,17
|
1,10
|
1,09
|
1,36
|
-67%
|
0,004%
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Desmatamento em UCs estaduais no estado do Amazonas (de proteção integral e de uso sustentável) sem o apoio do projeto (27 UCs) (A) + (B)
|
88.123,90
|
20,20
|
12,56
|
6,10
|
6,13
|
8,79
|
8,40
|
-58%
|
0,010%
|
Fonte: BNDES, com base nos dados do INPE
Componente Ordenamento Territorial (3)
Objetivo específico (3.2) Organizações sociais fortalecidas nas unidades de conservação estaduais abrangidas pelo Programa Bolsa Floresta no estado do Amazonas
- Número de reuniões das associações de moradores das Unidades de Conservação estaduais (indicador de produto)
No período de 2010 a 2015 foram realizadas 460 oficinas de planejamento participativo das associações de moradores, para planejamento de ações e deliberação sobre investimentos.
- Número de associações regulares nas unidades de conservação estaduais atendidas pelo Programa Bolsa Floresta (indicador de impacto)
Em 2015 havia 14 “associações-mães” devidamente formalizadas, com taxa de adesão em 86%, isto é, 8.058 famílias associadas em relação às 9.413 famílias beneficiadas pelo PBF. No início do projeto 12 UCs possuíam “associações-mães” formalizadas.
Esse indicador monitorou o grau de formalização legal das associações em UCs com e sem o PBF. Foi constatada que as associações não beneficiadas pelo PBF lograram uma significativa evolução em seu processo de formalização legal no período de 2010 a 2015 (ver tabela a seguir), todavia, ainda bastante aquém do já alcançado pelas associações situadas nas UCs apoiadas pelo projeto. Ao final do projeto 88% das associações situadas nas UCs beneficiadas pelo PBF se encontravam adequadamente formalizadas, vis a vis 40% das associações comunitárias nas demais UCs estaduais não beneficiadas pelo PBF.
% de Associações formalizadas em 2010
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(A) - (B)
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% de Associações formalizadas em 2015
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(C) - (D)
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UC´s com PBF (A)
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UC´s sem PBF (B)
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UC´s com PBF (C)
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UC´s sem PBF (D)
|
93%
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13%
|
80%
|
88%
|
40%
|
48%
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Fonte: Fundação Amazonas Sustentável
LIÇÕES APRENDIDAS
O Programa Bolsa Floresta foi um dos primeiros projetos contemplados pelo Fundo Amazônia e exigiu uma grande interação entre as equipes técnicas da FAS e do BNDES. Diversas situações experimentadas resultaram em aprendizados para ambas as organizações.
Em relação às prestações de contas foi necessário um amadurecimento dos requisitos por parte da FAS e dos beneficiários do Programa Bolsa Floresta. O desafio foi manter as normas e exigências do BNDES, mas entendendo o contexto e as condições dos beneficiários: populações ribeirinhas do interior do Amazonas.
O projeto trouxe também como aprendizado o senso de pertencimento e a valorização da coletividade na execução e consolidação das ações, o que facilitou os processos de organização social das comunidades beneficiárias. Estas são premissas essenciais para o empoderamento das associações e das lideranças comunitárias.
SUSTENTABILIDADE DOS RESULTADOS
Um importante legado do Programa Bolsa Floresta foi a consolidação de uma metodologia participativa e inclusiva, pautada nos anseios e demandas das famílias beneficiárias e com linguagem adaptada à realidade local, que garantiu o protagonismo das comunidades locais.
As ações de capacitação das lideranças das associações para a autogestão de empreendimentos, com ênfase em sustentabilidade e conservação de recursos naturais, são iniciativas que contribuem para a continuidade das ações, mediante o crescente envolvimento e ganho de autonomia das populações ribeirinhas na condução das atividades sustentáveis.
Vislumbra-se que, no médio prazo, as associações de moradores das unidades de conservação beneficiadas pelo Programa Bolsa Floresta poderão se tornar centrais de serviços para o apoio logístico, a assessoria técnica e o apoio financeiro aos seus associados e demais parceiros.
A construção de um novo modelo econômico na Amazônia é um desafio que depende da continuidade tanto das ações de combate ao desmatamento quanto das ações de fomento de uma economia de base florestal sustentável.
O projeto foi exitoso na estruturação de cadeias produtivas da sociobiodiversidade e de atividades relacionadas ao artesanato, turismo ecológico e comércio comunitário, representando um importante passo na direção da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais no bioma Amazônia. A consolidação definitiva desses resultados e sua multiplicação dependerão da continuidade de investimentos dessa natureza, especialmente mediante o apoio às cadeias dos produtos da floresta e do fortalecimento de empreendedores e associações de base comunitária, de forma que ganhem escala e se integrem aos setores mais dinâmicos da economia.do projeto contribuíram.
Veja no link a seguir a plataforma web do Programa Bolsa Floresta, onde podem ser explorarados vários tipos de camadas de mapas informativos relativos a esse programa e acessadas imagens do Google Street View na RDS do Rio Negro: http://www.mapas.fas-amazonas.org/
Clique aqui para conhecer a avaliação de efetividade do projeto Bolsa Floresta. Essa avaliação foi realizada por uma equipe de consultores independentes, sob a coordenação da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit - GIZ. Todas as opiniões expressas são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente a posição da GIZ e do BNDES.