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Projeto

Fundo Dema

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase)

Site oficial do projeto
Valor Total do Projeto
R$ 7.499.641,00
Valor do apoio do Fundo Amazônia
R$ 6.601.699,07
Concluído

Apresentação

Objetivos

Apoiar projetos socioambientais de pequeno valor por meio de chamadas públicas

Beneficiários

Comunidades tradicionais da Amazônia: pequenos produtores, quilombolas e indígenas

Abrangência territorial

Comunidades tradicionais no estado do Pará, com foco na área de influência das rodovias Transamazônica e BR-163 e na região do Baixo Amazonas

Descrição

CONTEXTUALIZAÇÃO

Os municípios localizados no entorno das rodovias Transamazônica e BR-163 e na região do Baixo Amazonas são regiões sob pressão de potenciais vetores do desmatamento, como pecuária, exploração madeireira e cultura de soja.

Neste contexto, foi criado em 2004 o Fundo Dema, resultado de uma parceria entre governo federal e sociedade civil. Foram utilizados recursos provenientes da venda de toras apreendidas de mogno ilegalmente extraído, majoritariamente na região de Altamira e São Félix do Xingu (PA). O Ibama, ao realizar a apreensão das toras de madeira, optou por doá-las com encargos para a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), de forma que os recursos obtidos com sua venda pudessem ser utilizados para compensar a região pelo dano ambiental sofrido. Assim, os rendimentos do Fundo Dema¹ devem ser direcionados ao apoio a projetos de desenvolvimento sustentável no Pará.

A FASE é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, de caráter beneficente, educativo e de assistência social fundada em 1961, que atua em seis estados brasileiros (PA, PE, ES, MT, BA e RJ) e tem sua sede nacional no Rio de Janeiro.

¹ O Fundo Dema, é um fundo financeiro, sem personalidade jurídica, representado por uma conta bancária em nome da FASE. Os recursos a ele vinculado estão depositados perpetuamente no Banco da Amazônia, indisponíveis para saques do principal, autorizando-se o uso dos rendimentos periódicos para aplicação em projetos de desenvolvimento sustentável no oeste do Pará 

O PROJETO

O projeto “Fundo Dema” visou apoiar por meio de chamadas públicas lançadas ao longo de três anos, a seleção de subprojetos socioambientais de pequeno valor, tendo como beneficiárias comunidades tradicionais da Amazônia (pequenos produtores, quilombolas e indígenas), localizadas no estado do Pará, com foco na área de influência das rodovias Transamazônica e BR-163 e na região do Baixo Amazonas.

Os subprojetos selecionados e apoiados a partir dessas chamadas públicas foram enquadrados em pelo menos uma das seguintes áreas temáticas: i) manejo florestal comunitário sustentável; ii) atividades econômicas desenvolvidas a partir do uso sustentável da floresta; iii) conservação e uso sustentável da biodiversidade, e iv) recuperação de áreas degradadas.

O projeto tem como diferenciais a promoção da capilaridade na alocação dos recursos e o benefício a uma população economicamente vulnerável, que se dedica a atividades sustentáveis relacionadas a cadeias produtivas da sociobiodiversidade amazônica. 

LÓGICA DE INTERVENÇÃO 

O projeto insere-se na componente "Produção Sustentável" (1) do Quadro Lógico do Fundo Amazônia. Seus efeitos diretos foram assim definidos: i) atividades econômicas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade identificadas e desenvolvidas como afirmação do modo de vida dos povos da floresta; ii) cadeias dos produtos agroflorestais com valor socioeconômico agregado ampliado e potencializando a segurança alimentar e nutricional dos povos da floresta; iii) capacidade técnica ampliada no âmbito das organizações dos povos da floresta para a implantação de sistemas agroflorestais, atividades de manejo florestal, produção agroextrativista, gestão do território, regularização fundiária e beneficiamento de produtos agroflorestais; e iv) áreas desmatadas e degradadas recuperadas e utilizadas como instrumentos de permanência e garantia dos territórios dos povos da floresta na Amazônia paraense.

Clique na imagem abaixo para visualizar sua árvore de objetivos, ou seja, como se encadeiam os produtos e serviços do projeto com os objetivos específicos e os seus objetivos gerais.

quadrologico

Evolução

Data da aprovação 15.03.2011
Data da contratação 14.06.2011
Data da conclusão 31.12.2021
Prazo de utilização 86 meses (a partir da data da contratação)
aprovação
15.03.2011
contratação
14.06.2011
conclusão
31.12.2021

Desembolsos

ano valor
1º desembolso 17.08.2011 R$ 590.470,00
2º desembolso 29.01.2013 R$ 1.381.208,00
3º desembolso 10.06.2013 R$ 282.442,46
4º desembolso 25.09.2013 R$ 253.553,00
5º desembolso 14.11.2013 R$ 244.225,13
6º desembolso 14.01.2014 R$ 118.430,00
7º desembolso 27.08.2014 R$ 1.636.510,98
8º desembolso 29.10.2014 R$ 336.782,46
9º desembolso 25.06.2015 R$ 353.235,33
10º desembolso 26.06.2015 R$ 91.425,00
11º desembolso 26.11.2015 R$ 530.862,24
12º desembolso 14.01.2016 R$ 711.445,24
13º desembolso 17.08.2016 R$ 366.871,57
14º desembolso 12.07.2019 -R$ 295.762,34
Valor total desembolsado R$ 6.601.699,07

Valor total desembolsado em relação ao valor do apoio do Fundo Amazônia

100%

Atividades realizadas

No âmbito do projeto, foram realizadas sete chamadas públicas lançadas pela Fase entre os anos de 2011 e 2014 para seleção de subprojetos socioambientais voltados para apoio a pequenos produtores, comunidades quilombolas e comunidades indígenas do Xingu. Ao todo, foram apoiados 112 subprojetos no valor total de R$ 3,1 milhões¹. 

Chamadas Públicas

Subprojetos apoiados

Tipo

Nº de Editais

Valor R$

Qte

Pequenos produtores

3

2.602.211,00

91

Quilombolas

3

397.519,00

17

Indígenas

1

75.714,00

4

Total

7

3.075.444,00

112

Devido à diversidade de atividades produtivas realizadas pelas famílias beneficiadas, o projeto apoiou um conjunto amplo de intervenções. Nos subprojetos voltados à produção sustentável e à segurança alimentar, destacam-se os investimentos em estruturas físicas de quatro usinas de beneficiamento de frutas, 21 galpões e espaços coletivos, nove casas de farinha, oito tanques de piscicultura, cinco casas de artesanato, 24 galinheiros e duas pousadas comunitárias. 

Nos subprojetos destinados à recuperação de áreas degradas, as principais ações foram a implantação de 101 Sistemas Agroflorestais (SAFs) e o enriquecimento de 177 quintais produtivos, com o plantio de 323 mil mudas². 

O projeto também apoiou a inscrição de pequenas áreas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que resultou na inscrição de 327 imóveis na região da BR-163 e na Mesoregião do Baixo Amazonas.

Como parte das atividades de capacitação, foram realizadas 24 oficinas de elaboração de subprojetos, além de 21 eventos de gestão e monitoramento e quatro seminários de avaliação externa. 

¹ Para assegurar maior capilaridade ao projeto, foi estabelecido o valor máximo de R$ 30.000 para cada subprojeto (no caso dos subprojetos direcionados às populações quilombola e indígenas do Xingu, os valores máximos eram de R$ 24.000,00 e R$ 22.000,00, respectivamente).
² Dados relativos a amostra representativa de apenas 54% dos subprojetos. 

Avaliação Final

Indicadores de eficácia e efetividade

As atividades do projeto Fundo Dema contribuíram para os resultados relacionados à componente "Produção Sustentável" (1) do Quadro Lógico do Fundo Amazônia.

Efeitos diretos 1.1 - Atividades econômicas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade identificadas e desenvolvidas como afirmação do modo de vida dos povos da floresta; e 1.2 - Cadeias dos produtos agroflorestais com valor socioeconômico agregado ampliado e potencializando a segurança alimentar e nutricional dos povos da floresta

Os principais indicadores pactuados para o monitoramento destes objetivos foram

  • Renda média das famílias beneficiadas pelos pequenos projetos com atividades econômicas de uso sustentável (indicador de efetividade)
    Meta: não definida | Resultado alcançado: R$ 2 mil por família
  • Receita obtida pelas famílias beneficiadas pelos pequenos projetos com atividades econômicas de uso sustentável (indicador de efetividade)
    Meta: não definida | Resultado alcançado: R$ 3,9 milhões

A produção das 1.031 famílias da amostragem com projetos produtivos (de um total de 2.2627 famílias beneficiadas) somou uma receita total estimada de R$ 2,1 milhões (R$ 3,9 milhões estimados para a totalidade dos subprojetos apoiados). O rendimento total por família beneficiada foi de cerca de R$ 2.000,00 ao longo da implementação do projeto, sendo que a produção da maior parcela dos subprojetos concentrou-se no período 2015-2017.

  • Inserção no mercado local dos produtos agroflorestais decorrentes dos pequenos projetos (indicador de efetividade)
    Meta: não definida | Resultado alcançado: 63% da produção

Em média 63% da produção foi comercializada, destinando-se a parcela restante ao consumo de subsistência. Por valor comercial se destacaram a produção de polpa de frutas variadas, tais como acerola, abacaxi, buriti, cupuaçu, graviola, manga e maracujá, que alcançou até o final do projeto o volume de 120 toneladas, além de 27 mil litros de polpa de açaí, 1.600 litros de óleos diversos (andiroba, babaçu, castanha-do-brasil e copaíba), 92 mil litros de farinha de mandioca, 15 toneladas de castanha-do-brasil, além de farinha de mesocarpo de babaçu, frutas in natura, hortaliças e galinha caipira.

Vale destacar que os resultados obtidos com a expansão da produção sustentável tiveram impacto direto na segurança alimentar e nutricional das famílias. Os executores dos subprojetos relataram ainda que a produção livre de agrotóxicos valorizou os produtos nativos e que os subprojetos apoiados ajudaram a recuperar variedades que estavam desaparecendo.

Efeito direto 1.3 - Capacidade técnica ampliada no âmbito das organizações dos povos da floresta para a implantação de sistemas agroflorestais, atividades de manejo florestal, produção agroextrativista, gestão do território, regularização fundiária e beneficiamento de produtos agroflorestais

O indicador pactuado para o monitoramento desse objetivo foi:

  • Número de indivíduos capacitados em SAFs, manejo florestal, produção agroextrativista, gestão do território, regularização fundiária e beneficiamento de produtos agroflorestais (indicador de eficácia)
    Meta: não definida | Resultado alcançado: 2.842

Além das oficinas de capacitação para elaboração de subprojetos e monitoramento, foram registrados 346 eventos realizados de forma descentralizada nos 112 subprojetos apoiados. No total, 2.842 pessoas participaram de pelo menos um curso ou reunião de trabalho coletivo, sendo 1.578 homens e 1.264 mulheres.

Cabe destacar a relevância do recorte de gênero na execução deste projeto. Do total de 5.448 pessoas diretamente beneficiadas em 33 municípios no estado do Pará, por meio dos 112 subprojetos implementados com a coordenação da Fase, 46% eram mulheres, que desempenham papel relevante na gestão dos espaços de produção e convivência comunitária viabilizados pelo projeto.

Efeito direto 1.4 - Áreas desmatadas e degradadas recuperadas e utilizadas como instrumentos de permanência e garantia dos territórios dos povos da floresta na Amazônia paraense.

O indicador pactuado para o monitoramento desse objetivo foi:

  • Áreas recuperadas a partir dos “pequenos projetos” apoiados pelo Fundo Dema
    Meta: não definida | Resultado alcançado: 886 ha

A sistematização dos resultados do projeto revelou que mesmo nas iniciativas que não tinham por objetivo a recuperação de áreas degradadas foi observado o aumento do uso de novas técnicas ou o resgate de técnicas sustentáveis tradicionais, dentre as quais o uso de cobertura vegetal e biomassa orgânica para proteção do solo, a produção de ração orgânica para peixes e aves e as hortas orgânicas no sistema “mandala”, agregando avicultura e criação de abelhas.

O desmatamento no Estado do Pará em 2011 foi de 3.008 km2, enquanto que em 2020 foram desmatados 5.257 km2.  Projetos que promovam a valorização da floresta em pé, por si, não tem a capacidade de mudar a dinâmica do desmatamento, necessitando estar integrados com ações complementares de fiscalização ambiental e controle do desmatamento. 

Aspectos institucionais e administrativos

A execução do projeto exigiu um esforço de coordenação e de articulação de parcerias em torno da Fase, responsável pela execução das chamadas públicas. A estrutura organizacional e de governança da Fase / Fundo Dema foi fundamental para evitar que a capilaridade e a distribuição territorial dos subprojetos inviabilizassem a sua adequada gestão. Isso foi possível pela presença de diversas organizações com foco temático ou territorial nos Comitês Gestores do Fundo Dema.

As principais organizações parceiras foram a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP) e a Prelazia de Xingu da Igreja Católica, na área da Rodovia Transamazônica/Xingu; a Comissão Pastoral da Terra (CPT - Prelazia de Itaituba) e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Itaituba, no entorno da Rodovia BR 163; o Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária (CEAPAC) e o STTR de Santarém, na região do Baixo Amazonas; a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (MALUNGU), na atuação com as populações Quilombola; e a representação da Pastoral Indígena da Prelazia de Itaituba e a representação das organizações indígenas da Terra do Meio e da Terra Indígena Baú, na relação com populações indígenas.

Este conjunto de entidades parceiras ajudou as organizações proponentes dos subprojetos na promoção dos contatos e entendimentos necessários com as instituições governamentais das regiões, como prefeituras, universidades, Incra, ICMBio, Ibama, Embrapa, Emater e Funai. Em conjunto com a Fase, toda esta articulação garantiu a execução do projeto em uma área geográfica de grande dimensão, com diferentes situações socioeconômicas e, em muitos casos, na ausência de infraestrutura de transporte e serviços adequada.

O projeto beneficiou-se da cooperação com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) do Pará no exame tempestivo e na dispensa de licença ambiental aos projetos sustentáveis sem riscos de impactos ambientais, o que foi facilitado por meio da implantação de um portal na internet.

Cabe registrar que a Fundação Ford cumpriu um papel estratégico no decorrer da preparação e execução deste projeto, especialmente no apoio aos Comitês de Gestão específicos para populações quilombola e indígena.

Riscos e lições aprendidas

Os resultados do conjunto de subprojetos comunitários apoiados indicam que o projeto “Fundo Dema executou de forma satisfatória as atividades previstas, tendo alcançado bons resultados. É um projeto que reforça o papel desempenhado pelas populações locais na proteção e no uso sustentável das florestas, bem como na oferta local de alimentos de boa qualidade. Povos indígenas, comunidades quilombolas, agroextrativistas e agricultores familiares residentes no entorno das florestas, quando incentivados a diversificar seus cultivos, implantar novas atividades ou resgatar práticas ancestrais nos sítios, respondem com produção diversificada, levando em conta seus interesses e necessidades específicas.

A realização das chamadas públicas de subprojetos em áreas indígenas foi um grande desafio, especialmente porque o período de execução do projeto coincidiu com o da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, na região do Xingu. Os significativos recursos compensatórios exigidos dos empreendedores daquele projeto desestimularam a demanda por subprojetos junto ao Fundo Dema, o que levou o Comitê Gestor a desistir de realizar uma segunda chamada pública no tema.

Outra lição do projeto é a de que pequenas iniciativas coletivas geram importantes mudanças nas comunidades locais, em função da abordagem participativa que confere protagonismo às populações do campo e da floresta e às suas organizações locais. A capacitação oferecida e o aprendizado de técnicas de gestão permitem a estas organizações comunitárias sair da informalidade, o que representa fator decisivo na sustentabilidade dos projetos. 

Sustentabilidade dos resultados

O projeto beneficiou-se da realização de uma avaliação externa independente contratada pela Fase e concluída em 2017. De forma geral, a sustentabilidade dos subprojetos foi avaliada como positiva, a partir de alguns fatores considerados decisivos na sua execução e gestão: i) a forte ênfase no reforço de capacidades de atores locais e no estímulo ao trabalho conjunto entre famílias; ii) o nível elevado de inserção dos projetos nas comunidades, cabendo destacar que um dos princípios foi o de não aprovar propostas que demonstrassem excessiva participação de assessores externos; (iii) a participação significativa das mulheres e a valorização das iniciativas que têm por base saberes e valores comunitários e tradicionais.

Por outro lado, pesam contra a sustentabilidade das iniciativas as fragilidades existentes nas comunidades e as já destacadas pressões do entorno. Foram apontados ainda como desafios a necessidade de assistência técnica continuada, o difícil acesso à energia elétrica e as dificuldades com transporte e reparo de equipamentos.

Por fim, cabe informar que foi celebrada em 2018 uma segunda operação de apoio do Fundo Amazônia à Fase para realização de novas chamadas públicas de subprojetos. A nova operação, que previu destinar 60% do valor contratado à consolidação das iniciativas que tenham alcançado resultado satisfatório neste projeto, encontra-se em execução e representa um suporte adicional à sustentabilidade das ações implementadas.