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Projeto

Experiências Indígenas de Gestão Territorial e Ambiental no Acre

Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre)

Código do projeto: 5667959
Site oficial do projeto
Valor Total do Projeto
R$ 5.823.061,00
Valor do apoio do Fundo Amazônia
R$ 5.823.061,00
Concluído

Apresentação

Objetivos

Apoiar a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) de oito Terras Indígenas (TIs) no Acre, por meio da promoção de ações de proteção territorial, formação de agentes agroflorestais indígenas e manejo de quintais e sistemas agroflorestais (SAFs)

Beneficiários

79 aldeias de 8 Terras Indígenas (TIs Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Baixo Jordão; Kaxinawa Seringal Independência; Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu; Igarapé do Caucho; Kaxinawa Praia do Carapanã; Kampa do Igarapé Primavera e Katukina/Kaxinawa)

Abrangência territorial

Oito TIs no estado do Acre

Descrição

Projeto selecionado no âmbito da Chamada Pública de Apoio à Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas 

CONTEXTUALIZAÇÃO

A Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), associação civil criada em 1979, tem como missão apoiar os povos indígenas do Acre em seus esforços pelo reconhecimento e exercício de seus direitos territoriais e socioculturais. Há mais de 40 anos vem atuando junto a vários povos indígenas do Acre, em quase todas as 35 Terras Indígenas (TIs) do estado, participando ativamente na consolidação de políticas públicas para os povos indígenas, com reconhecido destaque nas áreas de educação, formação para assistência técnica e apoio à construção de processos participativos de etnomapeamento, criação e implementação de Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) de Terras Indígenas (TIs). A instituição teve o primeiro projeto contratado junto ao Fundo Amazônia, em 2015, visando o fortalecimento da produção sustentável, a cultura e o modo de vida em quatro TIs no Acre.

O projeto “Experiências Indígenas de Gestão Territorial e Ambiental no Acre” foi selecionado por meio da chamada pública de projetos voltados ao apoio para elaboração e implementação de PGTAs, entendidos como instrumento que materializa o planejamento, pactuado pela comunidade indígena envolvida, do uso do seu território para fins culturais, ambientais e econômicos.

O contexto em que se inseriu o projeto incluiu atuar em situações de fortalezas e problemas, ou fragilidades, presentes nas TIs do Acre, considerando que as comunidades ainda carecem de fortalecimento da segurança alimentar e da geração de renda e estão suscetíveis a ameaças externas.

PROJETO

O projeto compreendeu atividades que contribuíram para a implementação de PGTAs de oito Terras Indígenas no estado do Acre: Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Baixo Jordão; Kaxinawa Seringal Independência; Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu; Igarapé do Caucho; Kaxinawa Praia do Carapanã; Kampa do Igarapé Primavera e Katukina/Kaxinawa.

O conjunto de atividades desenvolvidas em cada uma dessas regiões foi concebido a partir de seus respectivos PGTAs. Três atividades foram comuns a todas as TIs, a saber: manejo de sistemas e quintais agroflorestais, instalação de pontos de captação de água pluvial e realização de oficinas de gestão ambiental e territorial e de manejo de resíduos sólidos, enquanto outras atividades tiveram escopo mais localizado. Adicionalmente, em algumas TIs foram realizadas ações de articulação para proteção territorial, de monitoramento e vigilância, e de articulação e formação com comunidades do entorno.

O projeto contemplou, ainda, outras atividades, como a formação de agentes agroflorestais indígenas (AAFIs), por meio da qual se apoiou a realização de quatro turmas, o que permitiu a conclusão da formação e qualificação de 50 AAFIs, no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco. Os AAFIs desenvolvem trabalho educativo e participativo junto às comunidades indígenas e seu entorno, contribuindo para a gestão desses territórios.

LÓGICA DE INTERVENÇÃO

O projeto se inseriu nas componentes "Produção Sustentável" (1) e "Ordenamento Territorial" (3) do Quadro Lógico do Fundo Amazônia, e contribuiu para que atividades que mantêm a floresta em pé tenham atratividade econômica e constituam alternativa ao desmatamento nas TIs e para o fortalecimento da gestão territorial e ambiental de oito Terras Indígenas (TIs) no estado do Acre.

Foram definidos três efeitos diretos esperados a partir da implementação do projeto, a saber: (i) atividades produtivas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade identificadas e desenvolvidas nas TIs Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Baixo Jordão; Kaxinawa Seringal Independência; Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu; Igarapé do Caucho; Kaxinawa Praia do Carapanã; Kampa do Igarapé Primavera e Katukina/Kaxinawa; (ii) capacidades gerencial e técnica ampliadas para a implementação de atividades econômicas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade nas TIs do Acre; e (iii) TIs Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Baixo Jordão; Kaxinawa Seringal Independência; Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu; Igarapé do Caucho; Kaxinawa Praia do Carapanã; Kampa do Igarapé Primavera e Katukina/Kaxinawa com infraestrutura, proteção territorial e gestão fortalecidas.

quadrologico

 

Evolução

Data da aprovação 26.02.2018
Data da contratação 14.06.2018
Data da conclusão 29.04.2024
*Prazo de utilização 13.06.2023
*Prazo para recebimento de desembolsos
aprovação
26.02.2018
contratação
14.06.2018
conclusão
29.04.2024

Desembolsos

ano valor
1º desembolso 09.08.2018 R$ 1.051.738,22
2º desembolso 29.07.2019 R$ 450.000,00
3º desembolso 29.08.2019 R$ 1.344.426,60
4º desembolso 28.10.2020 R$ 1.701.960,20
5º desembolso 24.11.2022 R$ 1.274.935,98
Valor total desembolsado R$ 5.823.061,00

Valor total desembolsado em relação ao valor do apoio do Fundo Amazônia

100%

ATIVIDADES REALIZADAS

Foram realizados 4 cursos de formação intensivos de agentes agroflorestais indígenas (AAIs), na Escola Centro de Formação dos Povos da Floresta, que permitiram a continuidade e a conclusão da formação de 50 AAFIs. O projeto permitiu ainda a formação no ensino médio técnico-profissionalizante de 19 AAFIs.

Foram realizadas as 6 oficinas de gestão territorial e ambiental. Além dessas, foi realizada uma sétima oficina, na TI Katukina/Kaxinawa, de prevenção e combate a incêndios florestais (formação de brigadistas indígenas). Também ocorreram duas oficinas exclusivas com mulheres, envolvendo a TI Kaxinawá Ashaninka do Rio Breu, e uma oficina de monitoramento de agrofloresta com tecnologias de georreferenciamento, que impactaram positivamente nas ações em andamento nas TIs. A partir dos materiais de autoria indígena elaborados em cursos e oficinas, foi organizado um livro e 3 cartazes bilíngues (língua portuguesa e língua hãtxa kui) sobre manejo de recursos hídricos e resíduos sólidos.

No âmbito das ações de articulação e proteção territorial, foram realizadas 12 reuniões com instituições envolvidas na fiscalização de TIs e 20 excursões de vigilância em 6 TIs, com a participação de AAFIs e outros comunitários, dentre lideranças, mulheres e jovens, que atuaram no monitoramento comunitário, vigilância e mutirões de reabertura de picadas demarcatórias. Vale destacar também que o Setor de Geoprocessamento – SEGEO da CPI-Acre manteve o monitoramento remoto, avaliando cobertura florestal, desmatamento no entorno e outras ameaças regionais, como estradas e ramais, produzindo mapas com as informações trazidas das ações de vigilância, bem como enviando mapas para as lideranças indígenas.

No âmbito do manejo de quintais e sistemas agroflorestais (SAFs), foram realizadas 19 viagens de assessoria às 8 TIs beneficiadas pelo projeto e entregues 3 levas de ferramentas para apoio ao manejo de roças e agroflorestas. A área de floresta diretamente manejada em decorrência do projeto apoiado foi medida em amostragem de 354 plantios de 28 das 92 aldeias apoiadas nas 8 TIs, com o uso do aplicativo Avenza, que permite mapear o perímetro e calcular automaticamente a área de SAFs e quintais, e então extrapolada segundo metodologia estatística. Assim, em termos de área manejada, o projeto apoiou o manejo, enriquecimento e ampliação de áreas significativas, atingindo uma área calculada em 287,22 hectares.

Foram realizadas diversas outras atividades não previstas originalmente. Dentre essas, destaca-se o apoio à criação de aves em todas as 92 aldeias envolvidas, com uma média de 2 galinheiros construídos por aldeia e a entrega de 4 a 6 aves caipiras por aldeia, totalizando 184 galinheiros. Ao final do projeto, a criação somava cerca de 920 animais.

Nas ações relativas ao manejo de recursos hídricos, além da construção de 54 sistemas de captação de água de chuva, foram construídos outros 2 sistemas demonstrativos de captação no Centro de Formação dos Povos da Floresta. Cabe destacar a reforma e a construção de 32 cacimbas em 5 TIs, facilitando o acesso à água de qualidade para essas comunidades, particularmente no dia a dia do trabalho das mulheres.

Quanto ao fortalecimento institucional da CPI-Acre, melhorias da infraestrutura e de segurança do Centro de Formação e nas estratégias de comunicação institucional foram implementadas. O apoio às rotinas de contabilidade administrativa e elaboração de auditorias externas foi essencial para a boa gestão institucional.

O projeto também alavancou ações muito significativas realizadas de maneira autônoma pelos indígenas, através da disponibilização de equipamentos como barcos, máquinas fotográficas, celulares e laptops e para acesso à internet nas aldeias, permitindo que a equipes de vigilância e consultores indígenas realizassem uma gama de atividades em todas as intervenções do projeto, passando por viagens de assessoria, oficinas, excursões de vigilância e articulação com representantes de instituições competentes em fiscalização.

Avaliação Final

INDICADORES DE EFICÁCIA E EFETIVIDADE

As atividades do projeto contribuíram para os resultados relacionados às componentes "Produção Sustentável" (1) e "Ordenamento Territorial" (3) do Quadro Lógico do Fundo Amazônia.

Os principais indicadores pactuados para o monitoramento desses objetivos foram:

Efeito Direto (1.1) Atividades produtivas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade identificadas e desenvolvidas nas TIs Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Baixo Jordão; Kaxinawa Seringal Independência; Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu; Igarapé do Caucho; Kaxinawa Praia do Carapanã; Kampa do Igarapé Primavera e Katukina/Kaxinawa.

Indicadores de Eficácia:

  • Área de roças e quintais indígenas manejados e/ou enriquecidos com sistemas agroflorestais (hectares)
    Meta: 197,4 | Resultado alcançado: 287,22

  • Número de mudas / sementes plantadas
    Meta: 10.000 | Resultado alcançado: 10.108

Indicadores de Efetividade:

  • Volume de produção in natura gerada pelo projeto apoiado (toneladas ou outra unidade de medida) discriminado por produto Meta | Resultado alcançado:
    5 toneladas de açaí  | 5,5 toneladas;
    0,5 tonelada de laranja | 21,9 toneladas;
    10 toneladas de banana comprida | 38,6 toneladas;
    1 tonelada de buriti | 6 toneladas;
    1 tonelada de cupuaçu | 8,9 toneladas;
    10 toneladas de macaxeira | 56 toneladas.

Efeito Direto (1.3) Capacidades gerencial e técnica ampliadas para a implementação de atividades econômicas de uso sustentável da floresta e da biodiversidade nas TIs do Acre.

Indicadores de Eficácia:

  • Nº de cursos de formação de AAFIs realizados
    Meta: 27 | Resultado alcançado: 32
  • N° de AAFIs capacitados nos cursos de formação para o desenvolvimento de atividades produtivas de uso sustentável especificados por gênero
    Meta: 79 | Resultado alcançado: 84
  • N° de indivíduos de etnia indígena capacitados por AAFIs para o desenvolvimento de atividades produtivas de uso sustentável especificados por gênero
    Meta: 340 | Resultado alcançado: 841, sendo 293 mulheres)

Indicadores de Efetividade:

  • N° de indivíduos de etnia indígena capacitados para o desenvolvimento de atividades produtivas de uso sustentável efetivamente utilizando os conhecimentos adquiridos especificados por gênero
    Meta: 275 | Resultado alcançado: 1098 homens e 522 mulheres

Os números refletem o número maior de viagens de assessoria, cursos e oficinas realizadas, em relação ao previsto originalmente. Também se deve ao foco do Projeto na facilitação do trabalho autônomo de AAFIs consultores em seus territórios, percorrendo as aldeias constantemente para informar, planejar, pactuar e realizar atividades com as famílias.

Efeito Direto (3.2) TIs Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Baixo Jordão; Kaxinawa Seringal Independência; Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu; Igarapé do Caucho; Kaxinawa Praia do Carapanã; Kampa do Igarapé Primavera e Katukina/Kaxinawa com infraestrutura, proteção territorial e gestão fortalecidas.

Indicadores de Eficácia:

  • Relatórios de monitoramento e vigilância encaminhados para os órgãos de fiscalização competentes
    Meta: 18 | Resultado alcançado: 6

A principal situação-problema que impactou negativamente esta atividade foi o ambiente político adverso às causas indígenas. Foram realizadas reuniões com as instituições, mas essas não resultaram em ações concretas.

  • N° de oficinas de gestão territorial e ambiental realizadas
    Meta: 6 | Resultado alcançado: 6

Apesar das dificuldades impostas pela pandemia, a estratégia de realização de oficinas organizadas nas TIs exclusivamente por indígenas permitiu atingir a meta, como foi o caso nas TIs Igarapé do Caucho, Kaxinawa Praia do Carapanã e TI Katukina/Kaxinawa.

  • N° de participantes indígenas nas oficinas realizadas especificados por gênero
    Meta: 180 | Resultado alcançado: 204 homens e 75 mulheres
  • Nº de participações de representantes das comunidades do entorno em eventos de articulação e envolvimento (indicador de efetividade)
    Meta: 9 | Resultado alcançado: 197

O alto número de participações de representantes do entorno se deveu à ênfase nas ações de articulação e formação para a gestão integrada com moradores do entorno (RESEX Alto Tarauacá e RESEX Alto Juruá) para dialogar sobre desafios e ameaças comuns, procurar pactuar acordos de proteção territorial e incidência política, definir estratégias para melhoria da segurança alimentar etc.

  • Nº de aldeias atendidas por pontos de captação de água pluvial
    Meta: 26 | Resultado alcançado: 50
  • Nº de excursões de monitoramento e vigilância realizadas
    Meta: 18 | Resultado alcançado: 20

Apesar de o projeto prever originalmente ações apenas em 4 TIs, foram 6 as TIs que desenvolveram ações de proteção territorial com apoio do Projeto ou em contrapartida exclusiva das aldeias.

  • Nº de missões para reuniões entre representantes indígenas e órgãos de fiscalização
    Meta: 12 | Resultado alcançado: 12

As reuniões foram realizadas, mas não resultaram em ações efetivas por parte dos órgãos de fiscalização.

Indicadores de Efetividade:

  • Extensão de áreas protegidas com gestão ambiental fortalecida e/ou com o controle de seu território fortalecido (hectares)
    Meta: 260.523 | Resultado alcançado: 1.610.156

O número reflete a formação de AAFIs em cursos intensivos de formação em 22 TIs nos últimos 5 anos, através do apoio do Projeto. Reflete também o apoio que eles dão às ações de gestão territorial e ambiental em suas aldeias e a criação de aves que se ampliou para todas essas TIs bem como o fortalecimento dos plantios agroflorestais.

ASPECTOS INSTITUCIONAIS E ADMINISTRATIVOS

Dentre as parcerias estabelecidas, destacam-se o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI)/ Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), além da ação colaborativa emergencial com apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), com articulação para a doação de gêneros de primeira necessidade de alimentação, recebimento de kits de alimentação e pesca, itens de higiene e limpeza, combustível e equipamentos para acesso a água potável, no contexto da pandemia da Covid e inundações extremas ocorridas em 2021 e 2022. Também foi estabelecida parceria com o PREVFOGO/Ibama e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) na formação de brigadistas indígenas, e com o WWF Brasil, em ações de formação de monitores indígenas e uso de tecnologias para a proteção territorial, cruciais para qualificar as equipes indígenas de proteção territorial, na prevenção e combate a queimadas e invasões para retirada ilegal de recursos naturais. para

A atuação do Ministério Público Federal também tem sido um diferencial, em favor dos direitos e causas indígenas no que toca impactos e irregularidades de projetos de construção de rodovias e na exigência de cumprimento de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

RISCOS E LIÇÕES APRENDIDAS

A pandemia do coronavírus exigiu estratégias de adaptação, como reuniões virtuais, a instalação de internet nas aldeias, campanhas de informação, apoio emergencial e a reconfiguração de cursos, oficinas para prevenir contaminações. A parceria com o DSEI – SESAI foi fundamental para que apoios emergenciais chegassem às aldeias, bem como as estratégias de reforço das atividades relacionadas às estruturas de produção nas aldeias, como criação de aves, construção de galinheiros, criação de peixes, manejo de lagos, reformas de cacimbas, entre outras, para fortalecer a segurança alimentar e a geração de renda nas aldeias, em um momento delicado de isolamento social.

Outro cenário adverso foram as enchentes ocorridas no início de 2021 e 2022, que redefiniram quantidade importante de tempo da equipe para atender ações emergenciais, além das já em curso por conta da pandemia. As comunidades impactadas tiveram que se concentrar nos trabalhos de recuperação de roças e plantios agroflorestais e criações de animais e de muitas casas, que foram destruídas pelas águas.

Por isso, foi de suma importância a pactuação, planejamento e execução permanente de atividades em parceria estreita com associações indígenas e os consultores indígenas das TIs para a execução de todas as atividades nos territórios, permitindo resultados melhores que os originalmente previstos.

SUSTENTABILIDADE DOS RESULTADOS

Cabe destacar a importância de se intensificar ainda mais as ações que os próprios indígenas podem fazer de forma autônoma, como monitoramento dos plantios, avaliações, atualização e execução de propostas e demandas comunitárias, mantendo ações realizadas por AAFIs e lideranças extremamente experientes e que já têm significativo lastro profissional como consultores e consultoras indígenas. Estes indígenas poderão realizar ações de mediação e assessoria entre terras indígenas, garantindo que as atividades sejam realizadas nas aldeias com ações de multiplicação de conhecimento e atenção aos aspectos-chave da segurança alimentar.

Os participantes do seminário de encerramento do projeto trouxeram questões de escala e cobertura das ações, replicabilidade e ampliação e duração e sustentabilidade. As ações desenvolvidas estão voltadas a fomentar a implantação ou consolidação de práticas alternativas e interculturais de manejo ambiental, produção agroflorestal, criação de animais entre outras, que sirvam como elemento demonstrativo. Essas práticas, pelos poucos recursos financeiros e materiais que exigem, por priorizarem insumos disponíveis localmente e serem familiares às comunidades, são acessíveis e replicáveis, permitindo aprendizagens e reconstruções. Outra ação importante será o incentivo à produção local de mudas e sementes e o intercâmbio desses insumos entre aldeias e territórios, maximizando a autonomia de acesso e o fluxo genético de variedades locais.

A mobilização de recursos que tornam possíveis as práticas e modelos demonstrativos permitem também a multiplicação em escala maior, ampliando a cobertura para um número maior de famílias. Além do que é realizado como modelos demonstrativos nas terras indígenas, os agentes agroflorestais têm a experiência do que realizaram e implantaram no Centro de Formação dos Povos da Floresta da CPI-Acre. Dessa forma, as ações locais, no médio e longo prazo, permitem manter e ampliar os resultados positivos desse ou de outros projetos após o fim de sua execução, sustentando e disseminando os aprendizados e as soluções.

As declarações dos participantes consideraram também que independentemente dos variados recursos e interesses que possam ser mobilizados pelas famílias, há duas questões indispensáveis: que as associações locais indígenas se fortaleçam para a ampliação das parcerias e obtenção de projetos, fundamentais para continuidade e ganho de escala; e que as ações sirvam para influenciar políticas públicas. Assim, a sustentabilidade da continuidade dos resultados deve estar ancorada na aquisição e aprimoramento de competências que proporcionem aos atores locais, seus coletivos e organizações que intensifiquem a articulação de maior apoio técnico e financeiro, e conhecimentos e condições para incidência política.